sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O Guia Definitivo sobre Morar Sozinho



O Guia Definitivo sobre Morar Sozinho


Out here in the fields
I fight for my meals
I get my back into my living
I don't need to fight
To prove I'm right
I don't need to be forgiven

The Who – Baba O’Rilley

                Para tomar qualquer decisão relevante na vida, tenho uma fórmula simples: colocar um valor negativo pra cada um dos fatores negativos e um valor positivo para as vantagens, para daí tirar a diferença e ver qual das opções ganha. Quando eu resolvi morar sozinho, na terceira semana de maio de 2012, foi exatamente o que fiz num bloco de notas do computador. Os pesos foram distribuídos mais ou menos assim:
Positivos:
Liberdade: +7
Experiência e aprendizado: +5
Independência absoluta: +10
Mudança brusca de rotina (eu tava precisando): +7
Necessidade de aprimoramento (explico melhor depois): +5
Provar para quem duvidava de mim (todo mundo) que eu dava conta: +3
Saldo: 37
Negativos
Empobrecimento repentino: -10
Queda brusca na qualidade de vida (alimentação, transporte, espaço, mobília etc.): -7
Falta de convivência com a família e os cachorros: -5
Insegurança permanente (ninguém tá lá pra te ajudar, e sempre acontece uma merda): -5
Trabalho para manter as coisas em ordem (cadê mamãe?): -7
Saldo: -34
É, parece que vou morar só. Agora é pesquisar na internet.
Joguei “dicas morar só”, “morando sozinho”, “como morar só”, “experiências morando sozinho” e por aí vai. Li os resultados das primeiras cinco, seis páginas de pesquisa de cada um. Percebi que todo mundo dizia basicamente a mesma coisa, listando como regras pétreas, por exemplo:
1-      Anotar minuciosamente todos os seus gastos, fazer a soma e ver se, incluindo o aluguel, não dá mais do que 70% da sua receita líquida mensal, pois tem que colocar 30% na poupança para “imprevistos”.
2-      Fazer comida em casa. Guardar o que sobrar em saquinhos e congelar.
3-  Ter uma cama, um sofá, uma geladeira, um fogão, um microondas, uma TV, uma máquina de lavar e uma mesa.
4-    Se chamar os amigos para sua casa, pedir para cada um levar uma coisa.
5-       Não deixar sujeira acumular.
6-  Saber fazer serviços domésticos como desentupir uma pia, um ralo, um vaso sanitário, trocar a resistência do chuveiro etc.
Na época, tudo isso me pareceu coerente, mas meio abstrato demais. Depois, com o tempo, vi que a maioria das coisas era meio inútil para mim e para mais alguns outros solitários que eu conhecia. Talvez, os autores que escreveram o que li na internet tomaram como premissa que os leitores fariam parte daquele padrão típico de jovem que quer sair da casa dos pais, sabe?, aquele cara meio quebrado, que não vive sem uma “reuniãozinha” com um monte de amigos/colegas semelhantes, que quer “liberdade pra dentro da cabeça”, que tem dificuldade pra seguir rotinas doméstica simples e tem aquele desejo de poder dizer “my house, my rules”.
Pretendo mostrar essa realidade de um ângulo diferente, juntando o que todo mundo sabe com o que aprendi ao longo dos últimos três anos. Seguindo a ordem dos meus fatores de consideração:
1-      Liberdade 

Você quer liberdade para fazer o que? O que você quer fazer que não tem como onde está agora? Respondida essa pergunta, você decide se esse é um ponto fundamental ou não. No meu caso, a liberdade que eu queria não era para algo específico, era para simplesmente não ter que levar em consideração o que outra pessoa pudesse achar quando eu resolvesse fazer alguma coisa, seja lá o que fosse. Ou seja: não ter a quem dar satisfação. Quando você mora com os pais, por mais “tranquilos” que eles sejam - e não era o caso dos meus -, você tem vários limites impostos pela simples convivência com eles. No conflito de preferências, é deles a prioridade, sempre. Ou pelo menos costuma ser. 
Quando você mora com amigos, outros familiares ou mesmo desconhecidos, a circunstância de ter outra pessoa sob o mesmo teto também impõe regras tácitas de conduta, principalmente no que envolve barulho, horários, luz, espaço, (des)organização e por aí vai. Dificilmente você vai morar com uma pessoa e, se der na telha de dar uma volta de carro de madrugada, simplesmente vai sair fazendo barulho e voltar sem falar nada. Sempre tem que comentar algo, conversar quando não quer, dar micro-satisfações, risadinhas etc. Não era isso que eu queria. Se você quer sair do ninho e seu interesse maior é ser livre apenas da convivência com os pais e das obrigações decorrentes, não se importando com a liberdade “absoluta” de morar sozinho de verdade, considere chamar outra pessoa para viver contigo, isso diminui bastante os outros problemas a respeito dos quais vou escrever mais abaixo. Eu não queria isso. Queria estar só.  
Sendo sozinho de verdade, nas primeiras semanas você vai sentir a ótima sensação de estar em casa, não querer fazer nada, mas se uma hora quiser, poder ir lá e fazer. Sem pensar em ninguém. Quer varar a noite lendo, ou no computador, ou vendo um filme na televisão no volume que quiser? Go ahead. Quer chegar de manhã e dormir o dia todo? Vá lá. Nunca vai ter aquela aflição de ouvir gente chegando e pensar “acabou a paz”. Quer sair e chegar inúmeras vezes sem ninguém pra te olhar quando a porta abre? Ótimo. Isso tudo é muito bom mesmo. Não ache, também, que por você ser uma pessoa pacata, a questão da liberdade será menos relevante. Eu sou exemplo disso. Não fumo, não costumo beber, não fico sem roupa, não chamo ninguém pra minha casa, não gosto de festa, não faço barulho, não gosto muito de conhecer gente nova e é difícil eu querer conversar com alguém. Porém, gosto de cozinhar (a qualquer horário e em geral comida de cheiro forte), vivo saindo de madrugada pra ir pra qualquer lugar ou pra lugar nenhum, às vezes leio a noite toda, geralmente todas as luzes ficam ligadas até 5h da manhã e por aí vai. Isso é meio insustentável quando você mora com mais gente. Não há nenhum porém ou aspecto negativo no quesito liberdade. É bom MESMO e é o que eu tentava manter em mente quando sentia aquela tentação de voltar pra casa grande onde sempre tem comida.

2-      Experiência e aprendizado
As coisas vão dar errado. Tudo. Sempre. E não temos a opção de deixar pra lá, tem que resolver. De repente, você vai se lembrar de situações ao longo do seu tempo morando com os outros e vai achar todos aqueles probleminhas domésticos muito triviais. Afinal, lá, se você ignorar, provavelmente alguém vai lá e faz. Na sua toca solitária, não funciona assim... Tem que aprender e fazer. Eu aprendi a: cozinhar; o que pode e o que não pode entrar junto na máquina de lavar; a passar; que não pode misturar Qboa com azulim; que a data de vencimento dos alimentos se torna bem mais elástica quando você mora sozinho; que apesar de na caixa de leite estar escrito que após aberto só pode ficar guardado 2 dias e só na geladeira, na verdade ele pode ficar 5 dias fora ou 20 dentro; que condomínio pode ficar 3 meses sem pagar, mas 4 dá problema; que não dá pra confiar em blog que ensina como morar só (incluindo esse aqui), entre outras coisas.
O que achei mais interessante foi a mudança no padrão de pensamento. Naturalmente, quando você vive em grupo e acontece alguma coisa mais ou menos séria, o instinto é procurar alguém pra te ajudar a resolver o problema ou pelo menos compartilhá-lo com outra pessoa. Como não haverá ninguém e o trabalho para contatar gente passa a não valer a pena, você imediatamente busca soluções que dependem exclusivamente de você. Vale também pras conveniências do dia a dia. Não tem mais como ligar pro irmão e perguntar quando ele vai chegar em casa, nem pra mãe pra pedir pra ela deixar alguma coisa no fogão e nem pro pai pra pedir pra ele comprar algo na rua e trazer para você. Consequência disso é que mesmo quando você tem pessoas para te dar suporte, é preferível resolver tudo só, mesmo no trabalho. Eu pessoalmente percebi que passei a ser mais calado, a me concentrar mais facilmente e por ter aprendido tanto sobre coisas simples do cotidiano, pedia favores com menos frequência. Resumindo, você se torna uma pessoa mais completa e de modo geral menos dependente de todo mundo. Fica mais fácil se adaptar a qualquer coisa, e em minha opinião essa é uma das consequências mais positivas de estar numa situação em que não se pode contar com ninguém.

3-      Independência absoluta 

[DISCLAIMER]: As linhas abaixo devem ser lidas sob a óptica do tema MORANDO SÓ. Interprete direitinho e ninguém se ofende.

- Não é pra todo mundo que isso é importante. Na verdade, a considerar tudo o que eu já li e ouvi, essa é uma consequência mais indesejada ou ignorada do que realmente querida por parte de quem inventa de pular fora. É muito comum a pessoa sair de casa sob o argumento de que quer meter as caras no mundo e continuar dependendo total ou parcialmente da ajuda financeira dos pais. Papai paga faculdade, papai paga imposto de carro, papai paga celular, papai paga viagem, papai paga plano de saúde. Sempre tem o velho lá atrás como backup.
Meu ponto de vista a respeito desse tema é meio indigesto, então vou limitar os comentários para não fugir do tema.
Tão logo a pessoa tome o chá de vergonha na cara e resolva sair da sua casa de origem, ela vai perceber dois fatos incontroversos ela está INSTANTANEAMENTE e SIGNIFICANTEMENTE mais pobre, caso sua receita permaneça a mesma. Não tem como ser de outro jeito, não adianta. Se você não está mais pobre, é porque alguma coisa está errada. Quando se vive por tantos anos sob as asas de uma “potência econômica” maior, que com aquela mão invisível faz com que as coisas surjam dentro do armário, que comida brote na geladeira, que os impostos se paguem, que as contas apareçam com o comprovante de pagamento grampeado e faz com que a luz continue brilhando sobre sua cabeça, você tem a impressão involuntária de que coisas que sempre foram uma constante na vida estavam lá porque sempre deveriam estar lá, simples assim. Feliz ou infelizmente não é assim que funciona e muito do seu dinheiro, ao se mudar, vai ser pra manter essas coisas que antes simplesmente apareciam. 
No meu ponto de vista, porém, é tão gratificante assumir a responsabilidade de manter a própria vida, e ver que está dando certo, que os sofrimentos que vêm por consequência disso têm seu efeito minorado. Além disso, por mais que às vezes digam que não, os pais passam a te tratar de maneira diferente. Eles percebem que alguns “privilégios” estão revogados, então torna-se bem palpável a diferença no diálogo nos encontros, que passam a ser mais eventuais. Isso porque o principal argumento de autoridade não mais subsiste... agora você está sob o seu próprio teto. Em casos mais graves, ainda é possível ouvir um “eu ainda sou seu pai/mãe”, mas não costuma ser frequente e eles mesmo sabem que isso não tem e não pode ter o efeito de antes. 
Ao morar com pessoas responsáveis por você ao longo da vida inteira, o que você conquistou com seu dinheiro é exceção e o que você tem que veio do bolso do outro é a regra. Quem ainda mora na sua casa de origem pode fazer um teste: entre no quarto. Olhe o que tem lá. Sério. Tudo. O chão, a cerâmica, as paredes, a tinta, os móveis, as roupas no guarda-roupa, as suas próprias roupas no corpo, a decoração, a janela, a roupa de cama, o travesseiro, as coisas penduradas na parede, o produto de limpeza que foi usado para deixar aquilo limpo, a escova de dente que está no banheiro anexo, o chuveiro e a água que sai dele etc. O que, daquilo lá, realmente é seu? Geralmente pouca coisa. A não ser que você considere que o que comprou com sua mesada ou com dinheiro dado pelos outros seja seu de verdade. Não é o fato de você poder escolher o que fazer com determinado dinheiro que lhe é posto à mão que torna alguma coisa legitimamente sua, e você poder vendê-la ou deteriorá-la depois de estar na sua posse também diz menos do que parece. Não me entendam mal: é inevitável e plenamente legítimo ter o apoio dos pais até determinado estágio da vida, e quem decide até que ponto é cada um, individualmente. O que é condenável é tentar se enganar e achar que tem o que não tem e agir como se tivesse sido muito difícil “conquistar” aquilo tudo.
Ao morar só, imediatamente, isso começa a se inverter. As coisas que você trouxe da sua casa antiga vão se tornando minoria, e de repente você olha para si mesmo e para o que tem dentro da sua nova morada, depois de uns meses, e vê que aquilo lá você conquistou. Já poderá dizer: eu tenho uma cama, uma TV, um sofá, uma geladeira e as coisas que tem lá dentro são minhas. Isso é mais relevante do que parece. Quando você passa a considerar que a partir de então a regra é você ter que se virar com tudo, tudo de verdade, você deixa de esperar que alguém faça qualquer coisa por você, e, quando fazem, por causa da agora natural falta de expectativa, o agrado se torna uma surpresa geralmente bem-vinda. A mudança de pensamento ao se deparar com um problema ou uma necessidade, mais ou menos urgente, foi uma das coisas mais notáveis que percebi ao começar morar só. As soluções passam a ser individuais, e caso seja necessário pedir ajuda aos pais, será como aquele tipo de pedido que você faria a um amigo próximo. Sem hierarquia e sem privilégios.
Em resumo, você cresce.
4-      Mudança brusca de rotina ou Morando numa kitnet
Mesmo que você se mude para algum lugar perto de onde morava, a sua rotina vai ser virada de cabeça pra baixo. Se você então for mudar o seu meio de transporte principal, aí é que tem que se acostumar a chegar atrasado mesmo, pelo menos nos primeiros dias. Muita gente tem carro e resolve se mudar já sabendo que pra ajuste orçamentário vai ter que, por exemplo, passar a trabalhar de ônibus ou metrô. Muito dificilmente isso funciona por mais de uma semana. Lidar com esse transporte público de merda todo dia enquanto se deixa o carro na garagem não é pra qualquer um. Eu já tentei.
Durante a semana, quem passa muito tempo no trabalho não percebe tanto a diferença quando está dentro de casa, notando mais quando está saindo ou chegando. É muito estranho sair do trabalho ou da escola e pegar um caminho diferente para voltar pra “casa”, e é mais esquisito ainda abrir a porta nos primeiros dias e não ouvir nada. É um incômodo bom, porém. Você vai se conhecendo mais.

Nos fins de semana a diferença é mais palpável. Quando você estava na sua antiga casa durante o final de semana não havia tanto problema em passar o dia inteiro lá dentro, já que tinha mais alguém lá com você. Quando você se muda, aos primeiros fins de semana você sente mais a necessidade de sair. Tanto por conta do tédio acrescentado pela falta de estrutura quanto pra evitar aqueles comentários do tipo “nossa, você sumiu”. É como se fosse tudo bem você morar só durante a semana, mas durante o fim de semana, não tivesse “argumento” para não ir visitar o antigo pessoal. Aí a escolha é sua: saia da caverna, visite o pessoal, dê uns sorrisos e volte, ou então fique recluso e aguente os comentários. 
No dia a dia, o que mais me incomodou na rotina foi o barulho da rua e dos vizinhos. Não tava acostumado com isso. Por 12 anos eu havia morado em um lote muito grande dentro de um condomínio. Tinha vizinhos, sim, mas como as casas também eram todas de grande porte era raro ouvir coisas que viessem do lote ao lado. O condomínio era fechado e eu morava na penúltima casa, então não havia problema de carros passando na porta. 
Estranhei muito a vida do “parede com parede”, em que o chão do cara de cima é o seu teto e a parede de um também é a do outro. É até meio claustrofóbico. Você ouve escarros, descargas, brigas, trepadas, televisões, celulares tocando, conversas etc. Morar num prédio de kitnets é como estar num conjunto de bolhas organizadas, em que cada um fica na sua, mas você sempre sabe o que se passa na bolha do outro. Mesmo que não queira. Você vai sentir o cheiro da comida do seu vizinho, vai saber quando alguém comprou uma cama e ela está sendo entregue, vai ampliar seu leque musical e poderá escrever um livro de ocorrências por semana se quiser. Eu me mudei para um complexo novo de prédios, sendo um dos primeiros moradores. Eu nunca, nunca mesmo, falei diretamente com vizinho nenhum. Não conheço ninguém. Mas já vi um parto normal numa piscina de borracha; morador pelado no elevador munido apenas de uma sniper e um chapéu de cowboy; uma mulher fazendo xixi no chão da garagem; orgias de toda sorte (só ouvi, não acompanhei); atropelamento de cães; tentativas (?) de suicídio; intervenções policiais variadas; incêndios; pequenas explosões; invasão de ciganos (sério); gritarias e um caso de histeria coletiva. É o que dá morando em um lugar composto primariamente de jovens solteiros, novos concursados de outros estados, viajantes, alternativos e recém-casados.
Também me surpreendi com a quantidade de tempo gasto com trabalho doméstico, mesmo morando em um lugar tão pequeno. A prática faz com que o tempo gasto aí seja reduzido, mas não ache que porque é uma kit de 5 metros quadrados que não vai dar trabalho para limpar e arrumar tudo. Enquanto morava na minha casa antiga, detestava fazer certos serviços domésticos, como lavar louça e banheiro. Numa velocidade que me surpreendeu, deixei de me importar com essas coisas. Tarefas assim passam a ser tão normais e cotidianas quanto escovar os dentes. Vi que minha mãe tinha razão ao dizer que se na casa tivesse louça suja ou cama desarrumada, a impressão que passava era de estar toda bagunçada. É assim mesmo. Principalmente se a distância entre a pia e a cama for uns 3, 4 metros. E nenhuma parede entre elas. Triste.
Uma das coisas que você precisa dizer adeus são as refeições fartas, saudáveis e regulares. Praticamente todo iniciante passa a comer o que der e quando dá. E o engraçado é que todo mundo promete para si mesmo que vai cozinhar e comer a própria comida todo dia para economizar dinheiro. As dificuldades pra isso são várias. Por exemplo, é difícil se acostumar e ter noção de quanto tempo, mais ou menos, precisa para fazer um almoço desde o começo, e também como tentar diminuir a bagunça para cozinhar e se é melhor ir cozinhando e lavando a louça ou deixar tudo pra depois. Falo mais disso na parte de comida. Mas saiba de antemão que você provavelmente vai comer até mais do que comia, mas com menos frequência. E coisas que você ou comia menos ou não comia de jeito nenhum.
5-      Necessidade de aprimoramento
Ocorre que eu me vi com 19 anos e notei que se fosse colocado em certas situações eu simplesmente não saberia o que fazer. Eu não sabia fazer comida, não sabia lavar roupa, não sabia como ficar doente sem que minha mãe me ajudasse, não tinha noção de como conduzir uma casa sozinho. Em resumo: eu tava velho e deveria saber bem mais do que sabia naquele momento. Era óbvio também que esse é o tipo de coisa que não basta ler sobre para saber. Eu tinha que viver aquilo. A expectativa de entrar de cabeça numa realidade completamente nova é ao mesmo tempo assustadora e animadora. Isso porque mesmo que tudo dê absolutamente errado, você vai ter aprendido muito, até sem querer. Você vai exercer sua paciência, vai criar joguinhos mentais para aliviar o tédio, vai se conhecer melhor e com isso vai prever melhor seu comportamento em situações adversas, por exemplo.
Quando estava decidindo se ia sair ou não de casa, e, se fosse, pra onde ia, notei algo incontestável: eu não ganhava o suficiente para morar num lugar decente e ao mesmo tempo me alimentar conforme as recomendações da Organização Mundial de Saúde. Meu salário simplesmente não dava. Mas eu tinha plena consciência que conseguiria, se me esforçasse o suficiente, mais do que dobrar os meus rendimentos mensais, e, com isso, manter um padrão de vida ao menos aceitável.
Morando com os pais, tinha a segurança de que mesmo se abandonasse meu emprego, jamais passaria necessidade, então não havia incentivo o suficiente para usar o que eu aprendi ao longo dos anos para ganhar mais dinheiro. Também, não teria aquela energia mínima necessária para aprender coisas novas e adquirir habilidades que possam ser transformadas em algo que tivesse valor pecuniário. Todo mundo sabe fazer mais do que faz no próprio emprego, e com alguma astúcia, boa vontade e coragem, é possível sair daquela caixinha limitadora que faz com que tanta gente ache difícil ou muito improvável que a “vida lá fora” ofereça tantas oportunidades passíveis de aproveitamento.
Para terem uma noção, o valor do meu aluguel correspondia a 70% do que eu ganhava, líquido, mensalmente. O condomínio equivalia a outros 15%. Somando comida, transporte, comunicação e outras necessidades, o orçamento dava 200% dos meus vencimentos.
Não era bem uma opção eu me aperfeiçoar.
Aí... fiz traduções de artigos científicos de medicina para doutorandos, fiz legendas para seriados antigos, comercializei filmes e séries em alta definição (esse era o diferencial) que eu baixava por torrent, dei aula de reforço para nível médio (inglês, química, física, matemática e biologia), digitalizei livros e converti página por página deles para PDF pesquisável (umas 20 horas de trabalho por livro), fui garçom em restaurantes nos fins de semana à noite, vendi minha primeira monografia, aluguei a vaga que tinha direito no prédio, fiz mandados de segurança e defesas em processos administrativos enquanto não tinha estudado nada disso na faculdade ainda (e deu certo), tomei dinheiro emprestado sem juros de amigos para emprestar a juros a quem tinha nome sujo, lavei carros, cuidei de inventário, cortei grama da casa dos outros, consertei notebooks e celulares, trouxe cosméticos do Paraguai, aproveitei promoções relâmpago de madrugada para depois vender o produto mais caro, intermediei venda de carros etc. Eu não saberia fazer metade dessas coisas se não precisasse aprender e meter a cara no mundo.
Já passei uma semana inteira com 15 reais contados pra comer. Já andei 8 Km para o trabalho porque tinha dormido no ônibus e não tinha dinheiro pra pegar outro voltando. Fiquei puto na hora, mas ri de tudo. Emagreci pra caramba. Essa fase passou mais rápido do que eu pensei.
Indo morar só é que vi o acerto das frases “é a necessidade que faz o sapo pular” e “quando o cu fecha, a mente abre”. De fato. 
6-      Provar que deu certo
Mesmo quando você tem plenas condições financeiras de se manter confortavelmente por si só, a maioria das pessoas que convive contigo não vai acreditar muito que você vai embora mesmo. E mesmo que vá, apostam que você volta logo. Isso porque dinheiro é apenas um dos problemas enfrentados por quem saída casa.
Na melhor das hipóteses, as pessoas vão prever que você adoecerá de tanto comer lixo, que vai morrer com alguma infecção já que a casa será um chiqueiro, que vai engasgar à noite e vai morrer porque não tem ninguém para socorrer etc. Espere bolões e apostas entre os familiares. No meu caso, os chutes ficavam na casa dos dois meses, embora tivesse quem apostasse dinheiro nos três anos. Discutia-se também o que me faria voltar. Uns diziam que seria despejo por falta de pagamento, outros defendiam que seria por inanição. Havia quem sustentasse arrependimento posterior e, já alguns, que uma vez satisfeitos meus desejos mundanos contidos pelos anos de opressão, eu voltaria para o lar satisfeito por ter “conhecido o mundo”.
Espere risadas, conselhos em contrário, piadas e provocações. Normal. Não tem como não se contaminar com tantas manifestações desestimulantes e chega um ponto em que você acha que não é possível todos estarem errados e você certo. Que com certeza não vai dar certo e você vai se consolidar como a piada do ano: a pessoa que tentou pular do ninho e meteu a cara no chão. Com o tempo, isso vai mudando. Todo mundo vai ver que você não desistiu e tá vivo. Isso é bom porque, em tese, faz com que te respeitem mais, e também porque é um estímulo para que pessoas que convivem contigo tomem seu exemplo e também tentem fazer o mesmo.
Dicas específicas

Aviso logo que o que escreverei abaixo pode não servir em nada para você. Na verdade, não há nenhuma garantia de que minhas dicas são melhores do que as outras que tem na internet. Talvez eles estejam certos e eu não. Mas não dói ler.
1-      Onde morar
Eu acho que você deve fazer o possível para morar em um lugar que atenda às suas necessidades e lhe seja confortável, mesmo que esteja um nível acima do que você normalmente teria como pagar. Não estou falando que você pode ganhar 1 mil reais por mês e contrair aluguel de 4 mil. Não seja idiota. Estou dizendo que a regrinha amplamente aceita segundo a qual você deve gastar no máximo entre 25 e 30% do seu salário com aluguel não vale muito a pena ser seguida, dependendo do caso. Isso vai depender da importância que você atribui ao lugar que você mora e também de quais são seus outros gastos, além, claro, do que você está disposto a fazer para que o valor do aluguel pese menos no bolso, com o tempo.
O princípio que me veio à mente para decidir onde morar foi o mesmo que utilizei ao decidir se ia ou não atrás daquele cartão da Fácil-DF para não pagar passagem de ônibus. Claro que era melhor não pagar a passagem do que pagar. Para isso, eu deveria ir à faculdade, pegar uns papéis, ir para a empresa, fazer cadastro de linhas, pegar o cartão e aí não me preocupava mais com dinheiro pra andar de ônibus. Mas isso tinha uma consequência fácil de ser deixada de lado. Uma vez que você faz o possível para se adaptar a uma realidade que você não quer fazer parte, você acaba se agregando mais e fica mais difícil de sair daquilo. Eu preferi pagar 9 reais de passagem por dia em dinheiro mas não ser alguém que não tinha perspectiva de ter um carro e por isso preferia enfrentar burocracia para arranjar uma solução de médio ou longo prazo para ficar mais confortável. É como estar com a perna machucada e em vez de correr e fazer o possível para sarar logo, comprar uma cadeira de rodas porque é menos esforço.
Preferi pensar um pouco mais alto e em vez de buscar algum muquifo barato resolvi ficar num bom condomínio, com localização também bacana. Era caro? Pra mim era. Mas o pior que podia acontecer era eu ficar sem comer para pagar aluguel. E o melhor cenário possível seria eu conseguir passar a ganhar bem mais de forma a pagar as contas de moradia com menos esforço.
Então, acredito que não seja tão legal abrir mão de certas coisas para ir atrás de um lugar que fique perto dos pontos de ônibus que te levam para o trabalho ou que seja do lado do metrô. São facilidades importantes? Claro. Mas é bom ter sempre em mente que aquilo não pode ser um fator fundamental para você por muito tempo.
Em Brasília, recomendo as kitnets do Park Studios, no Park Sul. Fica ao lado do Carrefour, do Casa Park, do Park Shopping e também dista 15 minutos a pé do metrô. É completo e o aluguel não é tão caro quanto parece. Tem também o Living, também no Park Sul, para quem ou tem muita coragem ou muita grana. Já ouvi falar que no guará tem alguns lugares razoáveis, mas a maioria sem serviços de condomínio e tudo bem velho. Nas Asas geralmente tudo está velho, caro e caindo aos pedaços. Há boas opções nas cidades satélites, mas aí eu preferiria alugar uma casa. Enfim, procure bastante, visite, ponha na balança. Veja o que importa para você e não seja medíocre na sua escolha.
2-      O que comprar antes
Para saber o que comprar, projete na sua cabeça sua rotina de três dias na sua casa atual, sendo que não tenha ninguém lá e você precise manter tudo limpo. O que você usa? É sério, dá um pouco de trabalho anotar tudo. A gente usa muita coisa. É fácil se habituar com objetos tão banais quanto espelhos e pás de lixo que a gente nem considera que sejam “coisas” que precisam ser compradas. No meu caso, fui a uma loja de utilidades do lar na Ceilândia e comprei minha tralha. Além de ficar muito mais barato do que comprar em supermercado grande, esses lugares tem até mesmo mais variedade.
Eu comprei três vasilhas de plástico, dois pratos, alguns garfos, colheres e facas, dois copos, duas xícaras, um escorredor de pratos, um rodo de pia (é o mais importante de tudo), um suporte pra detergente/bucha, uma panela de pressão, três panelas normais, uma frigideira, uma mesa de plástico, duas cadeiras, dois rodos, uma vassoura de varrer e outra esfregar, uma jarra de suco, um espremedor de alho, uma tábua para cortar de plástico para carne (compre de plástico ou de vidro), um conjunto de seis taças bem vagabundas, dois bancos brancos de plástico, uma mesa de vidro para estudo, uma máquina americana de café e duas cestas de lixo. 
No Carrefour, comprei, para limpeza: Qboa, detergente, bucha, sabão em barra, azulim, limpa vidro, sabão em pó, amaciante e veja limpeza pesada. Para higiene, comprei tudo o que geralmente se tem num banheiro normal. Para comer, comprei aquelas coisas fáceis para café da manhã, arroz, carne moída resfriada, tomate, cebola, sal, alho, pimenta e açúcar.
Isso deu muito, muito mais caro do que eu imaginei. Sabia que tinha que comprar mais coisas, mas simplesmente não tive dinheiro. Se você está mais tranquilo de grana, recomendo comprar essas coisas aí que eu listei, pois são meio que universais, e vá passando devagar de corredor por corredor num supermercado grande e olhe todos os itens. Você vai ver que vários teriam que estar na lista, mas você só vai se lembrar deles quando os vir na prateleira. 
Mesmo assim é possível faltar alguma coisa. Lembro-me bem que comprei cestos de lixo, mas não comprei o saco. Não comprei papel toalha, tapete, panos de chão e nem flanelas, além de outras coisas. Foram as coisas que mais fizeram falta nos dias seguintes, até que eu conseguisse comprar de novo.
Se no seu dia a dia você perceber a falta de algo, registre num bloco de notas imediatamente e depois compre. Não confie na memória. Se você não tem carro, compre num mercado mais perto da sua casa, mesmo que seja um pouco mais caro, pois como vai ter que pagar pelo serviço de entrega, ficará mais barato.
Comprei algumas coisas que nunca usei, como a jarra de suco. Isso é normal. O importante é comprar tudo o que precisa e se livrar de tudo o que não vai usar para não ocupar espaço.
Com o tempo, comprei coisas extremamente úteis, como uma panela de arroz elétrica, um climatizador vertical e, por último, um ar condicionado.
Outra questão decorrente deste tópico consiste no que levar da sua casa anterior. Isso é algo estritamente pessoal e não tem como dar muitas dicas a respeito. Eu levei a minha cama, livros, computador, discos, DVDs, roupas e... só. Não compensa levar todas as roupas e nem tudo o que você chama de seu vale a pena ser carregado pelo simples fato de que provavelmente será completamente ignorado pra sempre.
Dica importante: PESQUISE antes de comprar coisas de valor considerável. Não tenha medo de comprar coisas usadas se valer a pena. Os grupos no Facebook de vendas e trocas são ótimos para quem mora só. Não seja caipira. Não compre nada em loja física sem antes verificar quanto custa na Internet. Buscapé é seu melhor amigo.
3-      O que comer
Todo mundo que sai de casa diz que vai fazer a própria comida e não vai gastar dinheiro com restaurante, porque é muito caro. Das várias pessoas que conheço e que disseram isso, uma ou duas cumpriram de verdade. Para isso dar certo você precisa ter bastante tempo livre, paciência e muita disciplina.
É muito mais fácil comer fora e as comidas prontas do mercado sempre parecerão mais atraentes do que a matéria prima que pra virar algo comestível exigirá muito trabalho da sua parte. É mais caro comer fora? É. Vale a pena? Depende das suas prioridades. O que me levou a desenvolver habilidades culinárias não foi exatamente a vontade de reduzir custo, mas sim a necessidade de desintoxicar meu corpo da quantidade de lixo que estava comendo, além de tentar me lembrar do gosto de comida feita em casa. Ainda hoje eu faço comida geralmente uma vez por semana, e no resto dos dias eu me resolvo na rua. Se você não tem noção nenhuma de cozinha, não há problema. Os sites de receitas estão aí pra isso. Veja, tente, experimente. Com boa vontade é possível fazer ficar bom.
4-      O que não fazer
Não deixe manteiga fora da geladeira por mais de cinco dias, senão ela começa a criar fungos.
Não passe mais de três dias fora de casa com louça suja, pois quando você chegar não vai aguentar o cheiro e vai ter mofo e bicho lá dentro.
Não deixe celular carregando embaixo do travesseiro. É sério. Principalmente com sua cabeça em cima. Naturalmente, ele vai esquentar enquanto carregando, e se durante o carregamento ele entrar numa rotina de atualização, backup ou algo que exija um pouco mais de processamento, ele vai esquentar muito mais. Debaixo do travesseiro, não vai ter onde o calor se dissipar, e como o calor pode gerar uma faísca, seu travesseiro provavelmente vai pegar fogo por ser feito de materiais fáceis de incendiar. Nunca chegou a esse extremo comigo, mas já explodi a bateria de um telefone fazendo exatamente isso. Se acontecer uma merda e você tiver dormindo, não vai ter ninguém para acordar com o cheiro e te socorrer. Quando você acordar, pode ser tarde.
Não deixe notebook ligado em cima da cama e saia. O calor que sai do cooler e o que é transmitido pelo plástico por baixo, na parte do processador, precisam se dissipar no ambiente. Se você deixa a máquina em um lugar em que a saída está obstruída e, pior, que pega fogo fácil, você pode causar um incêndio ou, no mínimo, estragar seu equipamento. Leiam a respeito na internet. Quer deixar computador ligado baixando alguma coisa? Ponha no chão, em uma mesa, numa cadeira, em qualquer lugar. Mas na cama não. 
Evite chamar gente para te visitar. Sempre tem bagunça e todo mundo vai ir embora e te deixar na mão. Escolha um lugar público ou então, se o seu condomínio tiver lugares comuns (salões de festa, pubs, sala de jogos etc.), reserve-os.
Não deixe de escovar o rejunte do banheiro ao lavá-lo. A maior parte dos fungos e bactérias num banheiro está no rejunte do banheiro. Não adianta lavar só a cerâmica, porque ela já é a parte relativamente mais limpa. Se não lavar o rejunte com uma escova, junta lodo. Se o rejunte for escuro, não dá nem pra perceber que tem sujeira lá. O problema é que os fungos de rejunte costumam entrar pelos pés e entre as unhas e dão doença, coceira, seborreia, câncer, necrose etc.
Não faça “compra do mês”. É melhor ir comprando de pouco em pouco, pois você evita comprar o que não vai consumir e a chance de as comidas vencerem se reduz. Tem coisas que você sabe que são de uso constante e tem data de vencimento indeterminada ou maior, como produtos de limpeza. Isso, se você tiver espaço, não faz mal comprar bastante e guardar, principalmente se tiver de promoção. O problema é comida. Recomendo comprar carne, verdura e derivados de leite uma vez por semana. O resto, uma vez a cada quinze dias. Você comprando com periodicidade menor, vai ter uma noção mais precisa do seu consumo médio, e aí vai evitar comprar o que não precisa ou que vai estragar.
Não ache que sua casa vai estar um brinco sempre. É melhor ter um padrão de organização médio e mantê-lo permanentemente do que nos primeiros dias tentar manter tudo impecável, ver que não tem como, enjoar de tentar manter assim, e jogar tudo pro alto depois. A rotina de limpeza é bem pessoal. Eu costumo lavar louças no mesmo dia ou no dia seguinte em que eu sujo. Banheiro eu lavo uma vez por semana. Lavo o chão e limpo os móveis uma vez a cada 15 dias. As roupas eu lavo também uma vez a cada duas semanas. Só passo roupa na hora de usar. A mesa de estudo eu sempre passo um pano com limpa vidro antes de colocar um livro ou o computador em cima para tirar aquela inevitável camadinha de pó.
Não deixe todas as suas chaves num lugar só. É prudente deixar uma no seu chaveiro, outra dentro do carro e outra com alguém de muita confiança.
5-      Imprevistos e soluções
É comum que coisas desagradáveis aconteçam e é bom ter pelo menos alguma ideia de como agir nesses momentos. Probleminhas como a queima de uma resistência de chuveiro são meio irrelevantes, porque existem dezenas de páginas da internet ensinando como fazer a troca. Prefiro dar mais atenção para aquele tipo de coisa que não tem solução pronta. Dentre essas coisas, o que considero de mais importante é:
 (a) tenha soro fisiológico, gaze e esparadrapo em casa. É muito comum se cortar acidentalmente nos primeiros dias, e às vezes são cortes feios. Até ajeitar tudo, é melhor evitar a bagunça com sangue sem se infeccionar.
 (b) tenha o cartão de um chaveiro consigo a todo o tempo. Já aconteceu, comigo e com outras pessoas que eu conheço, simplesmente sumir a chave, não achar a reserva e querer entrar em casa. Procurar o telefone de algum profissional na internet não é muito legal, pois eles geralmente vêm de longe e certamente cobrarão caro pra ir te ajudar. Veja onde tem um chaveiro perto da sua caverna e pegue o cartão dele.
(c) compre um carregador de bateria de carro portátil, se você tiver carro. Todo mundo vai ter a bateria arriada um dia. Geralmente, é só fazer uma ligação com a bateria de outro carro da mesma casa e, se for o caso, ir comprar a nova, mas agora não tem outro carro e é chato pedir esse tipo de coisa pra quem você não conhece. Eu comprei o meu no Wal Mart do Sia e custou 45 reais. Já usei uma vez.
(d) escolha uma pessoa e faça um acordo com ela para casos de emergência. De preferência alguém que também more só. Combine que se qualquer coisa séria acontecer e você precisar mesmo de ajuda, a pessoa deixará o telefone dela disponível para contato a qualquer hora do dia ou da noite, e vice versa. (e) tenha sempre soda cáustica em casa. Você nunca sabe quando as pias ou o vaso vão entupir. É um produto barato e é melhor ter disponível do que ter que sair de casa para comprar numa situação que às vezes não pode esperar.
Sobre os itens da casa, eles não vão quebrar com mais frequência só porque você mora só, mas, quando acontecer, faça uma pesquisa rápida no Google e siga as instruções que vai dar tudo certo.
Por último, relembro que a melhor solução para imprevistos chama-se dinheiro. Tenha alguma grana em espécie guardada em casa. Cartão, quando você realmente precisa dele, está bloqueado, não funciona, não é aceito etc. Às vezes é necessário pagar algum entregador de comida, tomar um taxi, comprar um remédio urgente e nesses casos tempo para ir atrás de caixa eletrônico é um luxo do qual nem sempre dispomos.
Acima de tudo: lembre-se que a maioria dos imprevistos é previsível. Faça o possível pra evitá-los.
6-      Arrependimentos
Eu me arrependi de não ter comprado mais cedo uma panela de arroz elétrica. É incrível como é útil e funciona bem. Quebrei a cara... Não acreditava mesmo que aquilo prestava. Vi um cara anunciando num grupo no Facebook por 50 reais e fui buscar. Ela tinha sido usada seis vezes, tava na caixa e ainda na garantia. Uma nova custa entre 80 e 150 reais.
Arrependo-me de não ter investido num ar condicionado antes. Você acha que é algo dispensável até comprar um. Não tem como voltar atrás. Por fim, eu me arrependi também de não ter me importado antes em mobiliar melhor minha casa por achar que não precisava de nada além da minha cama, uma mesa e uma geladeira. Apenas depois de dois anos comprei um rack, uma TV, uma estante pra guardar minha biblioteca. Esse tipo de coisa faz sua casa ter mais cara de casa e torna menor o impacto da inevitável queda do padrão de vida.
Conclusão
Você pode ter lido todos os livros do mundo - se é que existe algum - a respeito da “arte” de morar sozinho, mas vai passar por dificuldades e, sendo esperto, vai passar por todas sem maiores problemas. Se me perguntarem se eu acho que vale a pena sair da casa dos pais e ir morar só, respondo prontamente que sim, que vale muito a pena. Mas vale a pena desde que você seja coerente e tenha um mínimo de desenvoltura para se virar só. Há pessoas que são tão “cruas” que se ficarem uma semana sozinhas, morrem. E muitas delas resolvem sair de casa para ir morar com amigos, namorado(as) ou mesmo sozinhas sem pensar direito nas perspectivas e nos prós e contras. Ou mesmo que pensem nos contras, não pensam em como contorná-los. Não adianta querer ser uma pessoa destemida sem ter base nenhuma para isso. É o famoso corajoso idiota, ou o rebelde sem causa. Aquele que quer peitar a vida sem nenhuma estrutura. Não seja esse cara.
Veja o que você realmente quer, pense direito a respeito. Calcule. Mas se tiver decidido de que vale a pena, não seja frango. Vá até o fim.   
Charles Bukowski – Roll The Dice
If you’re going to try, go all the way.
otherwise, don’t even start.
if you’re going to try, go all the way.
this could mean losing girlfriends,
wives, relatives, jobs and
maybe your mind.
go all the way.
it could mean not eating for 3 or 4 days.
it could mean freezing on a
park bench.
it could mean jail,
it could mean derision,
mockery,
isolation.
isolation is the gift,
all others are a test of your
endurance, of
how much you really want to
do it.
and you’ll do it
despite rejection and the worst odds
and it will be better than
anything else
you can imagine.
if you’re going to try,
go all the way.
there is no other feeling like that.
you will be alone with the gods
and the nights will flame with fire.
do it, do it, do it.
do it.
all the way.
all the way.
you will ride life straight to
perfect laughter, its
the only good fight there is.
And I’m doing it
Enduring the long distance between us
Facing myself when there’s silence and darkness
Working while loosing my passion for it
Living in a city that left me long ago
Pushing time forward
Trying to live my dream
Holding my future closeby
Reading Wilde’s words
And still smiling
Because
I’m doing it!
Israel Paulino é servidor público, 23 anos, fã de Star Trek, café e carro velho. Mora só desde junho de 2012.

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